domingo, 6 de janeiro de 2013

Metade

Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito, não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas outra metade é silencio…Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste. Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.Porque metade de mim é partida, e a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo,não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como única coisa que resta,a um homem inundado de sentimento.Porque metade de mim é o que ouço, mas outra metade é o que calo.Que essa minha vontade de ir embora,se transforme na calma e na paz que mereço.Que essa tensão que me ocorre por dentro,seja um dia recompensada.Porque metade de mim é o que eu penso,e a outra metade é um vulcão.Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo,se torne ao menos suportável.Que o espelho reflicta em meu rosto,o doce sorriso que eu lembro de ter dado na infância.Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.Que não seja preciso mais do que uma simples alegria,para me fazer aquietar o espírito.E que o teu silencio me fale cada vez mais.Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba,E que ninguém tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.Porque metade de mim é a plateia,e a outra metade a canção.E que a minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor,e a outra metade… Também.

(Oswaldo Montenegro)


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